26 de nov. de 2012
Lectio Divina
"Fala Senhor, que teu servo escuta" 1 Sm 3,10
O
Concílio Vaticano II recomenda, comgrande insistência, a Leitura Orante
da Bíblia, quer pela piedosa leitura, quer por cursos apropriados (Dei Verbum 25). O Documento de Aparecida(247;249) e as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2008-2010 n°63
destacam a Leitura Orante com seus quatro passos: Leitura, Meditação,
Oração e Contemplação, como um meio privilegiado de encontro pessoal com
Jesus Cristo. Os documentos ainda incentivam a prática dos Grupos
Bíblicos de Reflexão, dos Círculos Bíblicos e das reuniões de grupos. A
Pontifícia Comissão Bíblica ensina que a Leitura Orante corresponde a
uma prática antiga da Igreja (A Interpretação da Bíblia na Igreja).
E por fim, ensina o Sínodo da Palavra, realizado em Roma, nos dias 05 a
26 de outubro 2008, que "o método mais prático de acesso à Bíblia é a
Leitura Orante".
"Maria meditava em seu coração" Lc 2,19-51
- Escolher um texto com antecedência. Pode ser a Palavra da Liturgia do dia.
- Estar na graça de Deus e viver em comunhão fraterna para poder silenciar e escutar. Ter paz interior.
- Ter hora e lugar marcados. Ser fiel ao plano proposto.
- Tomar posição tranqüila e agradável. Cuidar da boa posição do corpo.
- Fazer um pequeno relax, acalmar-se. Fazer o ninho para a oração.
- Colocar-se na presença de Deus com fé. Desejar rezar.
- Invocar as luzes do Espírito Santo.
- Abrir o texto e realizar os quatro passos: Leitura, Meditação, Oração e Contemplação para a ação.
-
Não é estudo bíblico, discussão de idéias, aquisição de conhecimentos
bíblicos. Não é leitura para depois fazer palestras, sermões para os
outros. É rezar com a Bíblia para sermos discípulos de Jesus.
-
A leitura orante é uma experiência, um exercício, uma prática, uma
relação pessoal, viva, empolgante com Deus e com a realidade. Não é
apenas uma técnica, um método teórico. É um encontro transformante.
-
A leitura orante é para dilatar o coração, abrir os olhos, estender as
mãos, impulsionar os pés na evangelização. É para mudar o coração, a
vida, a sociedade. É oração que leva à ação, ao irmão, à missão, à
compaixão.
-
É escola da Palavra de Deus para o reencantamento dos discípulos, dos
profetas, dos evangelizadores. É fonte de ardor apostólico.
1. Ler o texto na unidade da Bíblia. Respeitar
o princípio da unidade da Escritura. Não tirar o texto fora do
contexto. Não se pode isolar o texto fora do conjunto da Bíblia. Cada
texto é um tijolo dentro de uma grande construção. Não ficar ao pé da
letra, mas ler e interpretar o texto na vida de hoje. Leitura Orante não
é estudar o texto sagrado, mas sob a luz da Palavra compreender,
iluminar e transformar a realidade, converter-se ao Deus vivo e
verdadeiro e aos irmãos.
2. Ligar o texto com a realidade, com
os olhos na vida, nos acontecimentos, na situação concreta. A Leitura
Orante não faz de nós professores da Escritura, mas transformadores da
realidade. Não separar a Leitura Orante dos acontecimentos e dos sinais
dos tempos, mas iluminar a vida com a Palavra, eis o objetivo da Leitura
Orante.
3. Ler a partir da fé em Jesus Cristo. Tudo
na Bíblia converge para Jesus. Ele é a chave de compreensão e
interpretação das Escrituras. Jesus é a última e definitiva revelação de
Deus. “Ignorar as Escrituras é ignorar Jesus Cristo”. A Leitura Orante e
uma escola bíblica para sermos discípulos de Jesus.
4. Ler o texto em comunhão com a Igreja, com
a comunidade de fé. O leitor não é dono do texto. A Palavra de Deus foi
confiada à Igreja, que por sua vez, é serva da Palavra. A Leitura
Orante deve ser feita em comunhão com a Tradição, o ensino e a fé da
Igreja. Ler usando os resultados dos estudos bíblicos.
1° Passo – Leitura: ler, ler, ler...
- Conhecer, respeitar, situar o texto. Leitura lenta e atenta.
- Reler, repetir, recordar de memória, relembrar em voz alta.
- Ver o que o texto diz.
- Perceber os verbos, as palavras chaves, as idéias centrais.
-
Averiguar a geografia, o contexto, as circunstâncias, as passagens
do texto, os personagens com suas atitudes, seus gestos.
- Ler com atenção, respeito, amizade, interesse, dedicação como se faz num encontro com um amigo.
- Ler não é estudar, discutir, pesquisar, nem aumentar conhecimentos e teorias. É acolher, escutar, interiorizar a Palavra.
2° Passo – Meditação: ruminar, mastigar, revolver na memória.
- Meditar é guardar no coração e deixar-se amar.
- Meditar é aplicar o texto em nossa vida e realidade.
- Ver o que a palavra diz para mim.
- Procurar atualizar a palavra hoje.
- Perceber as inspirações, os apelos, os afetos, as revelações, as iluminações do texto lido.
- Relacionar com outros textos parecidos.
- Interiorizar, internalizar, ingerir a mensagem.
- Acolher outros significados do texto.
- Aplicar na realidade pessoal, comunitária, social.
- Deixar-se afetar pela palavra.
- Acolher o toque da graça.
3° Passo – Oração: louvar, agradecer, pedir.
- É o momento da resposta, do diálogo, do encontro mais pessoal, do entretenimento com Deus.
- É expressar os sentimentos de perdão, louvor, intercessão, súplicas.
- Abrir o coração, envolver-se na presença de Deus, acolhendo a realidade e os apelos dos irmãos.
- Fazer atos de perdão e reconciliação.
- Rezar salmos, hinos em relação com o texto meditado.
4° Passo – Contemplação para ação.
- É saborear, degustar, deixar-se envolver pela Palavra.
- É silenciar, estar quieto, em descanso sob o olhar amoroso de Deus.
- Sentir-se tocado, envolvido, amado, aceito, acolhido, perdoado, pacificado.
- Permanecer na presença, em receptividade, atenção amorosa nos braços do Pai.
- Dar espaço para Deus, para o irmão e a realidade da vida, afetivamente.
- Toda contemplação é para ser comunicada e vivida, em vista da transformação pessoal, comunitária e social.
-
A Leitura Orante da Bíblia deve incendiar o coração do orante e
motivá-lo para a ação apostólica, para a missão, para a evangelização.
-
A Palavra de Deus nos impele à caridade e à ação social como:
atenção aos pobres, acolhimento das pessoas, perdão às ofensas, partilha
do pão, solidariedade.
-
Pela prática da Leitura Orante, nosso fiéis se colocam à
disposição para trabalhar nas pastorais, nas comunidades, no dízimo, na
catequese, assumindo os grupos de reflexão, a visitação nas casas,
etc...
-
Quem medita as Escrituras encontra Cristo, sua Igreja e seu Reino;
cresce na dimensão profética e social da fé, assumindo
responsabilidades e trabalhos na comunidade e na sociedade.
-
A Leitura Orante move o coração e abre os olhos para o irmão, para
os necessitados, para a comunidade, para a implantação do Reino de
Deus.
Fonte: http://www.arquidiocesedelondrina.com.br/O Concílio Vaticano II é um autêntico sinal de Deus
“O Concílio
Vaticano II foi e é autêntico sinal de Deus para os nossos tempos. Se
soubermos lê-lo e acolhê-lo dentro da Tradição da Igreja e sob a
orientação segura do Magistério, ele será sempre uma grande força para o
futuro da Igreja.
Espero
sinceramente que este aniversário seja para vós e para toda a Igreja em
vosso país, ocasião de renovação espiritual e pastoral. Este, de fato,
nos oferece a oportunidade de conhecer melhor os textos, que os Padres
conciliares nos deixaram em herança e que não perderam seu valor, a fim
de assimilar e assegurar que produzam frutos para hoje.
Essa renovação,
que se insere na continuidade, assume diversas formas e o Ano da Fé,
que quis propor a toda a Igreja por esta ocasião, deve permitir tornar
nossa fé mais consciente, revitalizando nossa adesão ao Evangelho.
Isso requer uma
abertura cada dia maior à pessoa de Cristo, sobretudo redescobrindo “o
gosto” pela Palavra de Deus, para realizar uma profunda conversão do
nosso coração e para andarmos pelas estradas do mundo a proclamar o
Evangelho da esperança aos homens e às mulheres do nosso tempo, em
diálogo respeitoso com todos.
Que este tempo
de graça permita consolidar a comunhão no interior da grande família que
é a Igreja católica e contribua na reconstrução da unidade entre todos
os cristãos, que era um dos principais objetivos do Concílio.
A renovação da
Igreja passa também através do testemunho dado pela vida dos próprios
cristãos para que resplandeça a Palavra da verdade que o Senhor nos
deixou.
Redescobrir a
alegria de acreditar e o entusiasmo de comunicar a força e a beleza da
fé é uma questão essencial da nova evangelização à qual toda a Igreja é
convidada. Coloquem-se a caminho, sem medo de levar os homens e mulheres
de vosso país em direção a amizade com Cristo!
Queridos irmãos
e irmãs, que a Virgem Imaculada, Nossa Senhora de Lourdes, que teve um
importante papel no mistério da salvação, seja para vós uma luz na
estrada que conduz a Cristo e os ajude a crescer na fé” (cf. Zenit,
26/03/2012).
Os documentos
do Concílio e o espírito renovador suscitado por ele impulsionaram uma
rica primavera na Igreja. Duas características marcaram este período: a
possibilidade de uma Igreja de comunhão e participação, a partir da
igualdade básica de todos garantida pelo batismo, e um grande entusiasmo
no compromisso com a transformação evangélica da sociedade. Como
conseqüência houve grandes mudanças quanto à própria compreensão da
Igreja em si e de sua missão no mundo contemporâneo, o que exigiu uma
volta decisiva à Sagrada Escritura, novos parâmetros para a Teologia,
permanente leitura crítica das mudanças vertiginosas do mundo, e busca
de meios adequados para se poder atender, como Igreja, às necessidades
sempre novas da sociedade.
À luz da fé,
como diz Bento XVI, “o Concílio Vaticano II foi e é autêntico sinal de
Deus para os nossos tempos” e “será sempre uma grande força para o
futuro da Igreja.
Irmão Nery fsc
Celebrar e viver o Concílio Vaticano II
Em nota pastoral do dia 19 de abril a
Conferência Episcopal Portuguesa motivou a “Celebrar e viver o Concílio
Vaticano II”, em vista da comemoração dos 50 anos de abertura do Concílio e do
Ano da Fé. (ZENIT.org 24/04/2012). Eis um resumo desta nota:
Celebrar o Concílio. Na Carta apostólica “A Porta da Fé”, assim se exprime
o Papa Bento XVI: «Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com o
cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião
propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres
Conciliares, segundo as palavras do Beato João Paulo II, “não perdem o seu
valor nem a sua beleza (…). Sinto hoje, ainda mais intensamente, o dever de
indicar o Concílio como a grande graça de que beneficiou a Igreja no século XX:
nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que
começa. Quero aqui repetir, com veemência, as palavras que disse a propósito do
Concílio, poucos meses depois da minha eleição para Sucessor de Pedro: “Se o
lermos e recebermos, guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e
tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da
Igreja”.(1)
Celebrar
o cinquentenário do Concílio, nestes tempos em que a fé deixou de ser um dado
evidente, há de ser uma ocasião para aprofundarmos tão grande dom de Deus, que
nos faz experimentar a alegria e o entusiasmo do encontro com Cristo na
comunidade da sua Igreja. Se a nossa fé não se renova, facilmente degenera num
adorno espiritualista e as práticas religiosas não passam de rituais sem alma e
coração. Para nada serve o sal que perdeu a força e a luz que fica escondida
(cf. Mt 5, 13-16).
Não
basta mostrar a nossa concordância com os documentos do Concílio Vaticano II e
o Catecismo da Igreja Católica, publicado há 20 anos como sua aplicação
catequética. É preciso fazer descer à prática quotidiana a riqueza dos seus
ensinamentos. Pelos frutos de caridade se conhece a árvore da nossa fé (cf. Mt
7, 17-20). É preciso que a nossa fé encarne num estilo de vida cristã, na
família e no trabalho, na vida social e política. Cristo exorta-nos à coerência
entre fé e vida real: «Nem todo o que me diz: “Senhor, Senhor” entrará no Reino
do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu» (Mt 7,
21). E São Tiago recorda-nos que «a fé sem obras está morta» (Tg 2, 26), é
inexistente.
Pôr em prática o Concílio
2. A convocação do Concílio Vaticano II deu-se 90 anos
depois da realização do Concílio Vaticano I, que foi interrompido repentinamente,
a 18 de dezembro de 1870, dadas as convulsões pela unificação de Itália. A 25
de janeiro de 1959, na Basílica de S. Paulo extramuros, João XXIII, eleito
apenas três meses antes, anunciou, inesperada e solenemente, a convocação de um
Concílio ecumênico. Tinha em mente não apenas «o bem-estar do povo cristão»,
mas também um convite às «comunidades separadas para a busca da unidade». Sem
consultas prévias aos Bispos da Igreja universal, como tinha feito Pio IX antes
da convocação do Concílio Vaticano I, João XXIII decide esta convocação «por
uma repentina inspiração de Deus», apelidando este Concílio como «flor
espontânea de uma inesperada primavera». A Igreja viveu «um novo Pentecostes»,
como chamou o mesmo Papa ao Concílio. Um dinamismo de renovação foi
experimentado na Igreja, aos mais diversos níveis e quadrantes geográficos.
O
Papa Paulo VI, na Carta apostólica em que declara encerramento o Concílio,
confirma e exorta ao seu cumprimento: «Foi o maior Concílio pelo número de
Padres, vindos de todas as partes da terra, mesmo daquelas onde só há pouco foi
constituída a hierarquia; foi o mais rico pelos temas que, durante quatro
sessões, foram tratados com empenho e perfeição; foi o mais oportuno, enfim,
porque tendo em conta as necessidades dos nossos dias, atendeu, sobretudo, às
necessidades pastorais e, alimentando a chama da caridade, esforçou-se
grandemente por atingir com afeto fraterno não só os cristãos ainda separados
da comunhão da Sé Apostólica, mas até a inteira família humana» (2).
A
Igreja de Cristo é hoje a Igreja do Concílio Vaticano II, que nos compete
continuar a aplicar com fidelidade criativa. Queremos dar graças a Deus por
este Concílio providencial que continua a inspirar a Igreja. No decurso do
movimento de renovação conciliar, ocorreram hesitações e desvios, que não se
podem atribuir a este evento de grandeza ímpar, que João Paulo II apelidou de
«seminário do Espírito Santo», aberto ao mundo. Felizmente a recepção do
Concílio Vaticano II deu-se entre nós de um modo globalmente positivo. A
celebração do presente aniversário deve levar-nos a um exame de consciência,
pessoal e comunitário, para vermos o que falta fazer para implementar o
espírito e a letra do Concílio.
Iniciativas pastorais para viver o Concílio.
3.
O Santo Padre quis fazer coincidir o início do Ano da Fé com a celebração do
cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II. Assim, recordamos a
importância de integrar nos nossos planos pastorais as indicações gerais e as
propostas de ação que se encontram na citada Carta apostólica “Porta Fidei” do
Papa Bento XVI e na Nota com indicações pastorais para viver o Ano da Fé (3).
Os
Bispos exortam os agentes pastorais, a nível de dioceses, paróquias,
congregações, movimentos e os responsáveis das mais diversas instituições
eclesiais, que promovam o estudo, a reflexão e a aplicação do Concílio Vaticano
II, sobretudo dos documentos mais relevantes, as Constituições: “Lumen gentium”,
sobre a santa Igreja; “Sacrosanctum Concilium”, sobre a sagrada Liturgia; “Dei
Verbum”, sobre a Revelação divina; e “Gaudium et spes”, sobre a Igreja no mundo
contemporâneo.
Propomos
que as atividades e iniciativas programadas, como cursos, jornadas, pregações,
retiros, encontros, peregrinações, intervenções na comunicação social e a
própria oração, possam abordar temas na linha das efemérides celebradas.
Ao
mesmo tempo que celebramos o cinquentenário da abertura do Concílio,
comemoramos também o vigésimo aniversário da publicação do Catecismo da Igreja
Católica, que já tem uma edição adaptado aos jovens, o Youcat. O Santo Padre
Bento XVI recorda que «para chegar a um conhecimento sistemático da fé, todos
podem encontrar um subsídio precioso e indispensável no Catecismo da Igreja
Católica. Este constitui um dos frutos mais importantes do Concílio Vaticano
II» (4). Ler, estudar e dar a conhecer o Catecismo da Igreja Católica é, sem
dúvida, um modo muito recomendável de assimilar o espírito e a letra do
Concílio do século XX, de tanta atualidade ainda nos primórdios do século XXI.
Todos
precisamos examinarnos para ver o que o Espírito diz à Igreja, a fim de
continuar a experiência de Pentecostes do Vaticano II. O dinamismo de renovação
conciliar deve também passar pelo projeto em que está envolvida a Igreja nos
últimos tempos, no horizonte da nova evangelização.
Celebrar
o Concílio Vaticano II não significa recordá-lo em clima de nostalgia do
passado, mas revivê-lo e projetá-lo, na abertura ao futuro onde Deus nos
espera. Cabe-nos a missão de pôr sempre mais em prática o Vaticano II, um
Concílio com 50 anos de atualidade.
Fátima,
Portugal, 19 de abril de 2012
NOTAS:
1
- Bento XVI, Carta apostólica Porta Fidei, 2011.10.11, n. 5.
2 - Paulo VI, Carta apostólica In Spiritu Sancto,
1965.12.08.
3
- Congregação para a Doutrina da Fé, Nota com indicações pastorais para o Ano
da Fé, 2012.01.06.
4-
Bento XVI, Carta Apostólica Porta Fidei, 2011.10.11, n. 11.
Irmão Nery fsc
irnery@yahoo.com.br
50 anos da abertura do Concílio Vaticano II
1. Emoção especial. Ao escrever sobre os 50 anos do início do
maior evento da nossa Igreja católica no século XX, o Concílio Vaticano II
(1962-1965), não posso impedir de experimentar uma emoção muito especial. Vivi
em Roma de 1961 a
1964 e acompanhei de perto, e deslumbrado, o que ali acontecia anunciando
imensas mudanças em
nossa Igreja. O Instituto dos Irmãos de La Salle, do qual sou membro,
me agraciara com os estudos na Universidade São João do Latrão, e lá estava eu,
como jovem estudante, acompanhando curioso e interessado a novidade do Concílio.
2. Antes do Concílio. O Papa Pacelli (Pio XII) morreu em outubro de
1958. Os Cardeais eleitores estavam com grande dificuldade para a escolha do
sucessor da autoridade eclesiástica gigante, que dominou a primeira metade do
século XX. O escolhido foi um Cardeal bem idoso, rechonchudo, simples, humilde,
bondoso e de grande sabedoria. Parecia que tinha sido eleito para um período de
transição enquanto se preparava um Cardeal à altura de Pio XII. Seu nome Ângelo
Roncalli. O nome que escolheu: João XXIII
3. A
surpresa. Alguns meses depois,
em fevereiro e março de 2009, o novo Papa anunciava e convocava um Concilio
Ecumênico, o 21º da Igreja, a realizar-se no Vaticano. O primeiro havia sido em
1870. O Papa sentia a necessidade de
“aggiornare la Chiesa”,
isto é, “atualizar e renovar a Igreja” para o mundo em mudança, que estava
despontando naquele final da década de 50. E ele convocou oficialmente a todos
os Bispos do Mundo, os principais teólogos e biblistas para o magno encontro em
Roma em outubro 1962. Equipes de Trabalho foram organizadas para os temas a
serem tratados e para as devidas providências quanto à infra-estrutura, nada
fácil, para mais de 2.000 pessoas. Sem dúvida, era uma ousada loucura daquele
Papa tão idoso, de 82 anos de idade. E não deu tempo de fazer tudo de uma só
vez. O Concílio, então, durou de 1962
a 1965. Em 1963 João XXIII faleceu. Seu sucessor, o Papa
Paulo VI (Cardeal Giovanni Batista Montini), porém, deu continuidade e levou até
o fim a histórica empreitada e liderou sua colocação em prática até 1978.
4. Mas o que é um Concílio? Um concílio
ecumênico é uma reunião oficial de autoridades eclesiásticas com o objetivo de
discutir e deliberar sobre importantes questões doutrinais e pastorais (fé e moral).
Suas decisões tem um valor muito especial e compromete a Igreja toda. Mas pode
haver também Concílios Nacionais, Provinciais, Diocesanos. Entretanto, para
estes, cabe melhor o termo Sínodo (syn-junto,
odos-caminho), isto é, dialogar e
procurar consensos para um caminhar unido e coeso da Igreja. Nos Atos dos
Apóstolos, cap.15, 1-35, há informações sobre o primeiro Concílio Ecumênico da
Igreja Cristã. Aconteceu em Jerusalém, para questões da adaptação do
cristianismo no mundo greco-romano, tão diferente do mundo judeu, onde nascera.
5. A importância do Concilio Vaticano II. Nestos próximos artigos os/as leitores/as
encontrarão uma introdução aos Documentos Conciliares, que continuam marcando a
história de nossa Igreja, e um pouco do espírito e do clima renovadores gerados
e impulsionados pelo Concílio. .
História dos Concílios (1)
1. Foram ao todo 21 Concílios.
Neste texto resumiremos 16 deles:
1.1. A Igreja define as bases de
sua fé: 1) Nicéia I (em 325): declara
que Jesus e o Pai são iguais em natureza – Redige-se o Credo Apostólico; 2) Constantinopla I (em 381): Define a
natureza divina do Espírito Santo e redige a segunda fórmula do Credo; 3) Éfeso (em 431): Define que Jesus Cristo é, ao
mesmo tempo, Filho de Deus e Filho de Maria Santíssima, portanto, Maria, como
Mãe de Jesus Cristo, é Mãe de Deus; 4)
Calcedônia (em 451): Jesus é uma pessoa, mas com duas naturezas. Ele é, ao
mesmo tempo, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, portanto, com duas
naturezas, a divina e a humana, numa só pessoa; 5) Constantinopla II (em 553): Condena erros doutrinais do teólogo
Orígenes e do Bispo Nestório; 6)
Constantinopla III (em 680-691). Transforma em dogma a fé nas duas
naturezas em Cristo, que estava sendo contestada;
1.2 – A Igreja se torna
independente e se estrutura: 7) Nicéia
II (em 787), regula, segundo a fé, a veneração e culto às imagens cristãs; 8) Constantinopla IV (em 869-870):
define como ilegítimo o Patriarca Fócio, acentuando divergências entre a Igreja
Latina e Grega; 9) Latrão I (em 1123
e realizado na Basílica de São João do Latrão, Roma): Termina com a histórica intromissão
do Estado na vida e organização da Igreja. A Igreja se torna independente dos
governos; 10) Latrão II (em 1139):
Torna obrigatório o celibato para os Padres da Igreja ocidental e acaba com a possibilidade
de mais de um Papa ao mesmo tempo; 11)
Latrão III (em 1179): Traça as normas para eleição de Papa e escolha de
bispos. Expulsa da Igreja as autoridades que apóiam os Cátaros (na França)
considerados dissidentes; 12) Latrão IV
(em 1215): Define o Dogma da transubstanciação (a presença real de Jesus Cristo
no pão e o vinho consagrados); Determina a Primeira Confissão e a Primeira Eucaristia
já a partir dos 07 anos de idade; condena dissidentes católicos (Albigentes,
Maniqueístas, Valdenses);
1.3 – A Igreja se defende e se expande:
13) Lião I (em 1245): Depõe o
imperador Frederico II da Germânia, imperador do Sacro Império Romano, que
lutava para conquistar os territórios do Papa; 14) Lião II (em 1274): Define a existência do Purgatório;
Regulamenta a Assembléia (Conclave) de eleição do Papa; toma meios para a
reconciliação com a Igreja Ortodoxa. Lança a Cruzada para a conquista da Terra
Santa; 15) Viena (em 1311-1312): Suprime a Ordem dos Cavaleiros Templários;
Suprime os bordéis de Roma; decide por um Arcebispo em Pequim, China; 16) Constança (em 1414-1415): Extinção
da Grande divisão da Igreja do Ocidente; condenação dos hereges João Wycliffe e
Jan Hus. Declaração de que o Concílio tem supremacia sobre o Papa (mais tarde
isso foi abolido) e eleição do Papa Martinho V.
Nota. Completaremos o quadro no próximo texto. Nossa
Igreja tem uma história, marcada por acertos e falhas. Ela é divina (guiada
pelo Espírito Santo) e humana (formada por pessoas humanas, pois, nós que a
formamos, somos humanos). Além de, aos poucos, definir sua doutrina, ela lutou
para manter intacta a sucessão de São Pedro até Bento XVI. De tempos em tempos
faz um balanço para redimensionar sua vida e missão e traçar rumos para a sua
renovação e seu ardor missionário...
Irmão Nery
fsc, de
Machado, MG, é Religioso Irmão de La
Salle, educador, catequeta e escritor.
A Iniciação à Vida Cristã e o Discipulado 2
Durante a 3ª Semana
Brasileira de Catequese, Ir. Vera começou lembrando a todos que o Documento de
Aparecida “destaca a iniciação cristã como a maneira prática de colocar alguém
em contato com Jesus Cristo e iniciá-lo no discipulado”. Isso provoca muitos
questionamentos e entre eles é importante se perguntar: “será que a nossa
catequese é um verdadeiro caminho de discipulado?”
“Discipulado” e “seguimento” são termos que se
entrelaçam na medida em que são identificados pela ação de caminhar ou seguir,
e acabam sendo utilizados indistintamente como sinônimos. Na realidade, como
bem distinguiu Ir. Vera, “seguimento expressa a ampla realidade do chamado de
Deus que entra na vida da pessoa, espera uma resposta e provoca uma ruptura”.
Por outro lado, “o discipulado expressa a relação vital entre a pessoa do
discípulo e o mestre Jesus”.
O processo catequético deve, em primeiro lugar
levar a pessoa a encontrar-se com o Jesus que convida “algumas pessoas do meio
do povo para segui-lo e partilhar com ele a vida, a missão e o destino”.
Somente quem acolhe esse convite é capaz de dar o passo seguinte, o do
discipulado, que é o “aprofundamento do seguimento e implica renúncia a tudo o que
se opõe ao projeto de Deus e diminui a pessoa; leva à proximidade e intimidade
com Jesus Cristo e ao compromisso com a comunidade e com a missão”.
Os verdadeiros “seguidores de Jesus participam de
sua vida, de suas atividades, particularmente do anúncio do Reino. Mas, eles
dependem plenamente de Jesus e agem em comunhão com ele. Sem a relação-comunhão
vital com Jesus, a pregação da boa-nova do Reino perde toda sua força de
transformação”.
Por isso mesmo, como bem lembrava Ir. Vera, “na
catequese, não é suficiente apresentar conteúdos sobre Cristo para serem
sabidos e aceitos, mas é importante propor um modo de conhecer Jesus, que
consiste em assemelhar-se a ele, segundo seus ensinamentos”.
Nessa mesma direção são muito significativas as
palavras do teólogo Jon Sobrino que afirma: “quem quiser conhecer Jesus e não
só ter notícia sobre ele, que o siga! (...) Quem quiser conhecer o mistério
cristão de Deus, que esteja disposto a permanecer diante de Deus, a viver e
atuar como Jesus! (...) Quem quiser saber da ação renovadora e vivificadora do
Espírito, que se coloque, como Jesus, entre os pequenos e os pobres!”
Todas essas afirmações a respeito de seguimento e
discipulado são elementos fundamentais do processo de iniciação à vida cristã. De
fato, a sua finalidade não é simplesmente a de aumentar o número de batizados e
encher Igrejas, mas a de formar verdadeiras comunidades de discípulos
missionários de Jesus Cristo, que se esforçam em viver as propostas do Reino de
Deus, contribuindo, assim para que esse mundo fique cada vez melhor.
Conheça e aprofunde mais sobre esse tema no livro “3ª Semana Brasileira de Catequese. Iniciação à Vida Cristã”, publicado pela “Edições CNBB”, nas páginas 169-185. Consulte o site www.edicoescnbb.com.br e veja como adquirir este livro.
A importância da Comunidade
Quando se tem claro que a catequese deve ser
entendida como parte integrante do processo de Iniciação à Vida Cristã fica
claro que se está falando de algo muito mais envolvente do que simplesmente
preparar alguém para receber esse ou aquele sacramento. O que está em jogo não
é somente a preparação para participar conscientemente de um rito, mas conseguir levar a pessoa a
viver de uma forma nova, totalmente em sintonia com as propostas de Jesus
Cristo.
Com o tema “A
catequese na renovação da pastoral orgânica”, Therezinha Cruz levou os
participantes da 3ª Semana Brasileira de Catequese a fazerem uma profunda
reflexão sobre onde se quer chegar com o trabalho catequético e quem é o
responsável por ele.
Ninguém é uma ilha para viver e decidir a própria
vida de forma isolada. Como a Therezinha nos lembrou, o próprio conjunto dos
Evangelhos mostra que temos, além das exigências pessoais, também as
comunitárias e as sociais e que, pelo fato dessas exigências se entrelaçarem,
fica evidente que não é possível querer se fechar em nenhuma delas. Por isso, “a
vida em comunidade é o espaço de alimentação que fortalece tanto o nível
pessoal como o social. Dai se vê que precisamos de uma catequese aberta a essas
três dimensões da vida e da ação de cada cristão. Elas não são terrenos
separados. Cada uma que faltasse prejudicaria as outras duas”.
Infelizmente é fácil constatar que em muitas
Comunidades a ação pastoral acaba acontecendo de forma solitária, quando
deveria ser realizada em equipe. É evidente que “são muitos os ganhos em vários
aspectos se, cada um com seu jeito e seu tipo de espiritualidade, todos
estivessem interessados e, de certa forma envolvidos, nos projetos globais da
comunidade”.
Uma catequese realmente preocupada com a vida
cristã da pessoa, vai se esforçar em integrá-la na vida da Comunidade onde
possa viver aquela comunhão que faz a Igreja acontecer em fidelidade ao Projeto
do Reino de Deus. Tal comunhão, porém, não acontece de forma automática, mas
deve ser construída a partir de vários fatores que precisam ser evidenciados e
iniciados já no processo catequético. Dentre eles é necessário destacar:
a.
A valorização das
pessoas na Comunidade: “Cada um é único, precioso e insubstituível na sua
originalidade. É percebendo as múltiplas riquezas que Deus distribui a cada um
que começamos a valorizar a magnitude que há no relacionamento humano, a
riqueza da diversidade... Não dá para evangelizar se ignoramos os outros
trabalhadores do Reino, se não nos conhecemos e não nos sentimos parte de um
conjunto”.
b.
O planejamento das
atividades, realizado em conjunto: “O verdadeiro planejamento participativo é
uma escola que educa a comunidade para a pastoral orgânica. Pode dar mais
trabalho no começo, mas é um caminho que vai se tornando cada vez mais
produtivo”.
c.
O necessário
aprofundamento bíblico para todos: “A Bíblia... trabalha o tema da ‘comunhão na
missão’ tanto pelo método usado na sua composição como por seu conteúdo. Não é
um livro uniforme, com um só ponto de vista; é obra feita em mutirão na qual a
mensagem se comunica a partir da história de todo um povo... É um conjunto de
visões – até bem diferentes – que devem ser compreendidas a partir de uma chave
de leitura contextualizada para que se perceba de fato o que Deus está querendo
comunicar. É diversificada nos estilos literários e não se preocupa só com
aspecto da vida... Mas a Bíblia também valoriza explicitamente a ‘comunhão para
a missão’; o povo é educado no seu conjunto para ser sinal da Aliança; Jesus
não evangeliza sozinho; as comunidades do começo do cristianismo são o local de
alimentação da fé”.
d.
A escuta produtiva
da voz da Igreja: são muitos os documentos produzidos pela Igreja, dos quais a
grande maioria acaba ficando desconhecido, apesar da riqueza que nos
proporcionam para o conhecimento e vivência da fé cristã hoje.
Com certeza não é possível querer que o catequista
sozinho consiga inserir a pessoa na Igreja tendo presente todos esses fatores
indispensáveis para a verdadeira comunhão. A própria Therezinha lembrou que “já
dizia em 1983 o nosso (documento) Catequese Renovada: ‘cada membro do corpo
eclesial é responsável pelo bom andamento do todo, e o corpo sadio ajuda o
crescimento de cada um. (...) Na comunidade eclesial todos têm a vocação comum
de construí-la e de torná-la cada vez mais eficaz em sua missão libertadora e
salvadora junto ao mundo’. (CR 256 e 257)”.
Portanto é necessário que os mais variados grupos,
movimentos, pastorais, espiritualidades e visões de Igreja, que em muitas
Comunidades acabam convivendo lado a lado, mas sem muito diálogo entre si,
estejam dispostos a realizar um verdadeiro “ecumenismo interno”. É fundamental
que todos queiram ser “um” com os outros, assim como Jesus pediu, sem ficar
brigando para ver quem vai ser o maior no serviço ao Reino, mas alegres por
fazerem parte da multidão de fiéis com um só coração e uma só alma (cf. At
4,32). Dessa forma, além de todo o esforço do catequista, a própria Comunidade
estará sendo o ambiente propício para que aconteça uma verdadeira e eficaz
iniciação à vida cristã de seus candidatos.
Conheça
e aprofunde mais sobre esse tema no livro “3ª Semana Brasileira de Catequese.
Iniciação à Vida Cristã”, publicado pela “Edições CNBB”, nas páginas 219-232. Consulte o site www.edicoescnbb.com.br e veja como adquirir
este livro.
Pe. Luís Gonzaga
Bolinelli – Doutrinário
O que é que o dízimo revela?
O que é que o dízimo revela?
Sex, 26 de Outubro de 2012 09:39
por: cnbb
Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)
Bispo de Dourados (MS)
No dia 25 de maio, os órgãos de imprensa do Brasil informaram que as contribuições do Partido dos Trabalhadores aumentaram 353% de 2009 a 2011. Em 2011, elas chegaram a R$ 50,7 milhões, enquanto que as anteriores haviam sido R$ 11,2 milhões em 2009 e R$ 4,2 milhões em 2007.
Quatro meses após, no dia 20 de
setembro, alarmados pelo grande número de pessoas que, embora se
declarando católicas, deixam de contribuir com o dízimo, os bispos
alemães publicaram um decreto determinando que, quem assim age, perde o
direito de exigir os sacramentos e os serviços prestados pela Igreja.
Como se sabe, há vários séculos, por
influência da Igreja Luterana, ao assumirem um emprego em qualquer
empresa, os alemães comunicam a religião a que pertencem e entregam 8%
de seus rendimentos anuais às Igrejas a que pertencem. Quem se declara
agnóstico ou ateu, fica isento da contribuição. Os católicos representam
30% da população, mas, a partir de 2010 – quando vieram à tona
escândalos sexuais cometidos por alguns eclesiásticos – aproximadamente
180.000 deles se afastaram da Igreja.
Para a Conferência Episcopal Alemã, «não
é possível separar a comunidade espiritual da Igreja institucional». É
impossível manter um relacionamento correto com Deus sem olhar para os
irmãos que caminham ao nosso lado. Não tem sentido a decisão – que não
passa de desculpa – tomada por alguns cristãos, que proclamam: «Cristo,
sim; Igreja, não!».
A todo direito corresponde um dever. A
Igreja é formada por pessoas “santas e pecadoras”, como lembra
seguidamente a liturgia. Para vingar e crescer, ela depende de minha
participação – que não é apenas espiritual, uma questão interna e
pessoal, entre eu e Deus. Se não contribuo pastoral e financeiramente, a
minha adesão à fé é ilusão e demagogia. Quando não passa pela carteira,
o meu amor se assemelha a «sino ruidoso e a címbalo estridente» (1Cor
13,1).
É muito mais cômodo rezar o rosário,
participar de cultos e celebrações, confiar em objetos religiosos, fazer
procissões e romarias, etc., do que devolver o dízimo. «O apego ao
dinheiro é a raiz de todos os males» (1Tm 6,10), e só consegue vencer a
tentação quem encontra em Deus a sua realização, a sua alegria e a sua
«grande recompensa» (Gn 15,1). «Riqueza acumulada é sinal de morte;
riqueza partilhada é sinal de vida», adverte o periódico “Liturgia
Diária”, no comentário que preparou para a missa do último domingo de
setembro.
Evidentemente, isso vale também e
sobretudo para quem recolhe o dízimo. Seria um absurdo e um escândalo se
o líder de uma igreja – bispo, padre ou pastor – aproveitasse da
contribuição de seus fiéis – um dinheiro sagrado, porque fruto do amor e
do sacrifício de quem tem fé – para adquirir o melhor carro da
paróquia, comprar fazendas, transformar sua residência num palácio e
exigir salários de marajá. A finalidade do dízimo é assim delineada pelo
Código de Direito Canônico da Igreja Católica: «Os fiéis têm obrigação
de socorrer às necessidades da Igreja, a fim de que ela possa dispor do
que é necessário para o culto divino, para as obras de apostolado e de
caridade e para o honesto sustento dos ministros. Devem ainda promover a
justiça social e, lembrados do preceito do Senhor, socorrer os pobres
com as próprias rendas».
Talvez pelos abusos a que o dízimo está
sujeito, sempre houve e continua havendo pessoas que o questionam. Até
São Paulo precisou se defender das críticas que lhe dirigiram alguns
cristãos de Corinto: «Os ministros do culto vivem dos rendimentos do
templo e quem serve ao altar participa do que é oferecido sobre o altar.
O Senhor ordenou que, quem anuncia o Evangelho, viva do Evangelho»
(1Cor 9,13-14).
Em todo o caso, se, nestes últimos anos,
o PT conseguiu aumentar sua arrecadação, é porque há pessoas que
acreditam na validade de seus objetivos. Da mesma forma, o dízimo é um
termômetro que demonstra o grau de satisfação, de acolhida e de comunhão
existente na Igreja, e o melhor caminho, senão único, para que ela
volte a atrair os homens do século XXI, como, aliás, acontecia em seus
primórdios: «Todos os que abraçavam a fé, viviam unidos e possuíam tudo
em comum. E, a cada dia, o Senhor acrescentava à comunidade outras
pessoas que buscavam a salvação» (At 2,44.47).
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