Teologia: A Necessária Reflexão
Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales
Bispo de Jales
Foi surpreendente a participação no
Congresso Teológico Continental, realizado nas dependências da Unisinos,
em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. A expectativa era de trezentos
participantes. Mas o número chegou a 750, e não foi maior por motivo de
espaço no salão das conferências.
Foram cinco dias intensos, com
programação para cada dia, alternando grandes conferências de manhã e de
noite, com oficinas temáticas, painéis diversos, e apresentação de
trabalhos teológicos na parte da tarde. Todas as atividades sempre
precedidas de momentos de espiritualidade, que aconteciam também nas
celebrações litúrgicas em horários antecipados.
Um clima de grande interesse, de atenção
às temáticas apresentadas, e de esforço de captar bem a caminhada feita
por beneméritos teólogos e teólogas da América Latina, sobretudo a
partir do processo de renovação conciliar, que encontrou por aqui uma
generosa acolhida, mesmo em meio a contrariedades, que acabaram
caracterizando não só a renovação eclesial, mas também uma teologia
própria, que procurou acompanhar e dar respaldo à caminhada eclesial em
nosso continente.
As datas simbólicas que motivaram a
realização deste Congresso Continental situavam bem o processo de
caminhada conjunta, entre renovação eclesial e reflexão teológica. O
Congresso se situou na marca dos 50 anos da abertura do Concílio
Vaticano II, e dos 40 anos da publicação do livro do Pe. Gustavo
Gutiérrez, Teologia da Libertação, que acabou dando nome à teologia
latino americana que procurou “dar as razões da esperança” deste
Continente.
Olhando com serenidade este processo de
busca de sintonia entre vivência eclesial e reflexão teológica, se chega
a uma constatação simples, mas profunda. Toda caminhada eclesial
necessita do respaldo de um processo de reflexão, que ofereça
referências consistentes e motivações autênticas. Toda caminhada própria
de Igreja requer uma teologia própria, que dê razões adequadas para as
situações que interpelam a fé e pedem o suporte da razão.
Assim dá para dizer que fazia o Cristo,
de acordo com os relatos do Evangelho. Com frequência ele explicava em
particular as parábolas aos seus discípulos, ou se retirava à parte com
eles, instruindo-os melhor a respeito do Reino.
Assim fizeram Paulo e Barnabé, quando se
detiveram um ano inteiro com a comunidade de Antioquia, dando
fundamento consistente à incipiente vida eclesial, que em seguida se
tornaria ponto de partida para a missão no império romano.
Assim fizeram nos primeiros séculos da
Igreja, aqueles que hoje chamamos de “santos padres”, que sentiram a
necessidade de respaldar a fé cristã, que estava tomando forma
explícita, com o suporte da razão.
Daí resultaram os primeiros grandes
tratados de teologia. É bom conhecê-los, não só porque iluminam ainda
hoje nossa fé, mas para nos incentivar a fazer como eles fizeram: na
medida em que percorremos novos caminhos, e enfrentamos novas
dificuldades, precisamos refletir, colocando em ação a capacidade humana
que Deus nos deu para pensar, e desta maneira fazer brilhar melhor a
fé, que continua iluminando também as realidades próprios de nosso
continente.
A urgência de pensar a fé, a partir de
nossa realidade, à luz da Palavra de Deus, em comunhão eclesial, foi
certamente um recado precioso deste grande Congresso Teológico.
Neste contexto soam bem as palavras de
João Paulo II, em carta dirigida à CNBB, em abril de 1986, afirmando bem
claramente que “a teologia da libertação é não só oportuna, mas útil e
necessária”.
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